MadBizarrice: o grande mistério de Hinterkaifeck


Essa história é tão bizarra que até hoje ninguém tem a mais absoluta ideia do que aconteceu, mesmo com técnicas modernas de investigação e perícia. Vem com a gente rever todos os fatos e conhecer mais sobre a macabra família Gruber. Não esqueça de que pode clicar sobre as imagens para aumentá-las.

**ATENÇÃO: o texto a seguir contém imagens e conteúdo que podem ser fortes a leitores sensíveis. Recomendamos cautela.**
 
A fazenda e a família

A família Gruber e mais alguns parentes

Em 1922 Hinterkaifeck era só uma das muitas fazendas da Bavária, na Alemanha. Entre fazendas, plantações e animais, vivia a família Gruber. O patriarca da família era Andreas Gruber de 63 anos, um fazendeiro conhecido por ser bastante rígido e violento, principalmente porque sua esposa, Cäzilia de 72 anos, era constantemente agredida e sempre tentava esconder as marcas roxas pelo corpo quando tinha que ir à cidade. Andreas era o tipo de homem que você não iria querer enfrentar nunca. Ele andava armado para onde quer que fosse e não admitia que ninguém o contrariasse, inclusive nunca escondeu que agredia a esposa. Esse comportamento hostil só poderia resultar em uma péssima fama pela cidade, o que por sua vez resultava em boatos maldosos que nunca ficaram provados de fato. Um deles se referia a um de seus supostos netos, Josef de apenas 2 anos, que diziam ser fruto de incesto com sua filha Viktoria de 35 anos.

Viktoria Gabriel tinha acabado de perder o marido, Karl Gabriel, nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial em 1914. Sozinha e passando por dificuldades, ela decidiu retornar à casa dos pais com sua filha de 7 anos chamada também de Cäzilia e supostamente seu filho Josef. O pai se mostrava ciumento com ela e a proibia de sair da fazenda, exceto em raras ocasiões em que podia andar pela cidade. Entretanto, Viktoria era proibida de trocar uma só palavra com quem quer que fosse, pois precisava da autorização do pai.

Andreas e Cäzilia tinham outro filho chamado Emil, de 17 anos. Depois de uma violenta briga com o pai, ele saiu da fazenda na calada da noite e nunca mais foi visto. Há quem acredite que ele foi parar em Munique em 1921, mas alguns acreditavam que ele poderia até mesmo ter chegado a Frankfurt que ficava bem longe dali. Andreas nunca falava do filho e quando o fazia, chamada de “aquele ingrato”. O que se sabe é que Emil e Andreas chegaram a trocar socos várias vezes, o que preocupava os vizinhos ao redor porque temiam que um dia pudesse haver uma tragédia. Emil não era um garoto qualquer. Alto e musculoso, era capaz de derrubar um homem adulto com facilidade. Emil também costumava ser muito quieto e quase nunca largava o trabalho na lavoura, por isso não tinha concluído os estudos. Muitos suspeitavam de que ele talvez soubesse do suposto incesto, mas o que se sabia é que tinha um certo ciúmes do favoritismo do pai pela irmã. Há ainda quem diga que ele próprio praticava incesto com a irmã também e que o ciúmes doentio do pai tivesse gerado tantas brigas que ele teria fugido.

Por último havia um empregado chamado R. Kreszenz (algumas fontes dizem que era uma mulher). O que se sabe é que ele deixou o emprego de repente por notar estranhos acontecimentos, ouvir sons incomuns como gargalhadas do lado de fora ou passos subindo para o sótão quando a família toda estava na sala de jantar, ferramentas quebravam sem motivo, coisas sumiam e até um jornal atípico da região tinha aparecido de repente. Ele achava que a fazenda era assombrada e também relatou que as crianças não paravam de chorar porque pareciam estar sempre assustadas. Andreas então tratou de difamar o servo, chamando-o de “idiota de mente fraca”. Em março daquele mesmo ano, Maria Baumgartner se tornou a mais nova empregada da casa.

Apesar da família ser bastante reclusa, frequentavam a igreja local e Cäzilia até mesmo fazia parte do coral. As pessoas costumavam dizer que ela tinha uma bela voz, mas a socialização parava por aí. O que acontecia entre as 4 paredes daquela fazenda é um mistério até hoje.

Os primeiro acontecimentos

Cerca de 6 meses depois da chegada da nova empregada, Andreas encontrou pegadas na neve no seu quintal. A trilha acabava na floresta próxima dali. Ele procurou em todos os cantos por algum invasor, dentro e fora da casa e do barracão, mas nada encontrou. Decidiu então ir à cidade e avisar os outros moradores de que poderia haver um novo invasor em suas terras, mas que se ele o encontrasse, este seria morto.

Naquela mesma noite, a família foi acordada por ruídos vindos do sótão e Andreas se pôs a vasculhar o lugar novamente. Não encontrou nada, nem ninguém. Pela manhã novas pegadas foram encontradas, mas desta vez iam da frente da casa até a floresta. Isso foi o suficiente para tirar o sono de todo mundo por mais de uma semana.

Cansado e irritado, Andreas decidiu visitar um amigo chamado Kaifeck. Ele contou que era comum ouvirem ruídos do lado de fora da fazenda e que tinha encontrado arranhões na porta do barracão. Ele também dizia que tinha certeza absoluta de que não era Emil tentando aterrorizar o pai. A convicção dele assustou as pessoas.

Naquele mesmo ano, Francisca Bohrman foi contratada como a mais nova empregada da família. Porém, logo no primeiro dia se recusou a dormir na fazenda alegando que era um lugar amaldiçoado e partiu para o vilarejo. Lá ela contou que viu uma figura fantasmagórica entrar na floresta enquanto lavava a roupa.

O sumiço

Em 4 de abril de 1922, a família Gruber parecia ter sido banida da face da Terra. Haviam dias que ninguém os via e nem mesmo na igreja tinham aparecido. Desde a fuga de Francisca, ninguém mais tinha tido notícias deles. Alguns vizinhos se reuniram e decidiram ir até a fazenda para ver o que estava acontecendo. Embora tivessem chamado várias vezes pelos Gruber do lado de fora, parecia que a fazenda estava deserta. A apreensão só crescia, principalmente porque logo notaram que não havia tido atividade alguma da família por um bom tempo.

Os corpos

O grupo então resolveu entrar, mesmo sob a ameaça de que qualquer invasor seria morto, uma promessa que Andreas sempre mantinha e espalhava pela cidade. O que encontraram primeiro foram as inúmeras pegadas na neve que iam para o galpão. Lá dentro eles encontraram o pior cenário possível: Andreas, Cäzilia, Viktoria e a pequena Cäzilia estavam mortos e jogados num dos cantos.

Andreas é o primeiro da esquerda pra direita. A pequena Cäzilia mal pode ser vista no canto, perto da parede, próxima da avó e da mãe.

Já em decomposição, o forte odor dos corpos tornava a permanência no galpão praticamente impossível. Mas onde estaria o pequeno Josef?

Desesperados, os vizinhos começaram a procura-lo em outras partes da fazenda. Entraram na casa, viram todos os cômodos revirados e os revistaram quando por fim encontraram o corpo do pequeno menino no quarto também já sem vida.

O quarto de Viktoria onde estava o pequeno Josef.

A empregada foi encontrada morta dentro de seu quarto.

No chão está o corpo de Francisca Bohrman.

 A investigação

Georg Reingruber
Acionada imediatamente após a descoberta de Josef, a polícia de Munique começou a investigar toda aquela chacina sob o comando do inspetor Georg Reingruber. Submetidos a autópsia pelo Dr. Johann Baptist Aumüller, os corpos tinham marcas de golpes violentos na cabeça causados por algum tipo de ferramenta pesada e que provavelmente tinha sido usada por alguém muito familiarizado com esse tipo de equipamento. Viktoria parecia ter sido estrangulada, mas não se sabe se essa foi realmente a causa de sua morte, já que também tinha um golpe em seu crânio.

Sabe-se que a maioria dos golpes mataram instantaneamente as vítimas. A pequena Cäzilia, porém, parecia ter sido a morte mais terrível, já que possivelmente demorou horas para morrer mesmo depois de um forte golpe em sua cabeça. Ela foi encontrada deitada ao lado dos avós e da mãe e parecia ter arrancado os cabelos aos tufos.

O pequeno Josef tinha sido morto de outra forma. O assassino tinha cortado sua garganta e deixado o pequeno garoto na cama sangrando até morrer. Acredita-se que o golpe na cabeça veio depois.

Apesar de a arma não ter sido encontrada, as suspeitas recaíram em uma ferramenta muito comum nas fazendas, provavelmente uma picareta.

Todos vestiam pijamas, exceto Viktoria e Cäzilia que ainda vestiam a roupa do dia-a-dia. Todos os corpos do galpão estavam cobertos com palha seca. Estaria o assassino tentando encobrir tudo com um belo incêndio? De qualquer forma seria uma péssima ideia porque a fumaça com certeza atrairia a atenção dos vizinhos, o que pode ter motivado a desistência dele. Josef estava enrolado em um lençol encharcado de sangue e tinha um travesseiro sobre seu rosto que foi colocado ali antes do golpe certeiro na cabeça.

Esta foto mostra como os corpos foram encontrados, ou seja, cobertos por palha. É diferente da imagem que coloquei mais acima.

Dada a condição dos corpos, os investigadores chegaram à conclusão de que tudo tinha acontecido em 31 de março. Entretanto, como um assassino poderia ter conseguido essa proeza com um homem como Andreas por perto?

Os investigadores acreditam que ele conseguiu de alguma forma enganar um membro da família de cada vez para entrar no galpão. Cada vez que um entrava, era executado a golpes de picareta. Quando terminou, retornou à casa, pegou uma faca e finalmente matou o garotinho. O que se sabe é que as primeiras vítimas foram Viktoria e a pequena Cäzilia. Talvez o sumiço das duas tenha motivado Andreas e a esposa a começarem uma busca por elas.

Notaram também que tufos de cabelo de todas as vítimas foram cortados, o bigode de Andreas aparado e os longos cabelos de Cäzilia haviam sido cortados. A razão permanece um mistério.

Os sobreviventes

Curiosamente o assassino parecia não ter se importado em matar os animais da fazenda, apenas as pessoas. O cachorro, por exemplo, tinha comida e água fresca à sua disposição. Vacas, galinhas e porcos também pareciam ter sido alimentados recentemente.

Havia ainda restos de comida fresca na cozinha e alguns vizinhos afirmavam ter visto fumaça saindo da chaminé naqueles dias.

Teria o assassino passado alguns dias na fazenda? Os investigadores concluíram que sim, o que torna tudo ainda mais macabro.

Os suspeitos

Pra que matar uma família inteira? Por que poupar os animais? Pra que levar consigo tufos de cabelo e barba? As questões eram muitas e nenhuma foi de fato respondida.

Inicialmente acreditava-se na hipótese de roubo. Naquela época, a Alemanha tinha acabado de passar por uma guerra infernal e muita gente tinha perdido tudo. Não era incomum ver desafortunados e vagabundos perambulando pelas cidades e atacando pessoas. A vida confortável dos Gruber poderia ser um forte chamariz a uma dessas pessoas, mas não parecia ter sido o caso, principalmente depois de encontrarem uma caixa de joias e moedas de ouro no quarto principal totalmente intacta. A carteira de Andreas que estava numa gaveta também ainda continha 150 marcos, o que era bastante naquela época.

Lorenz Schilittenbauer
 Interrogando vizinhos, eis que surgiu o primeiro suspeito: um veterano da guerra chamado Lorenz Schilittenbauer que havia estado na fazenda semanas antes e agora vivia em Munique. Ele dizia ser um amigo do marido de Viktoria e que prometeu cuidar dela e dos filhos caso algo acontecesse a Karl. Recusado por Viktoria, ele saiu furioso. Sabia-se que o homem era violento e explosivo. Foi preso, mas um casal de amigos confirmou seu álibi de que estava na casa deles. Outras pessoas também afirmaram tê-lo visto num bar. Foi então solto.

Dois meses depois, a polícia encontrou uma picareta suja de sangue com fios de cabelo humano (que mais tarde foram identificados como sendo da família Gruber) a cerca de 2km da fazenda, floresta adentro. A picareta estava enterrada na lama e embrulhada em um lençol similar ao de Josef.

Cerca de 100 suspeitos foram presos e interrogados, mas nunca descobriram quem foi o real assassino.

Entretanto, há quem acredite que o maior e principal suspeito seja o filho desaparecido que voltou para se vingar da família. A polícia tentou localizá-lo, mas nunca conseguiu. O que se sabe é que se Emil estava vivo quando tudo aconteceu, certamente teria tomado ciência do caso porque repercutiu no país inteiro na época. Teria Emil se apavorado e escondido da polícia? Nunca saberemos.


O falecido marido de Viktoria também se tornou um forte suspeito. Talvez o homem não tivesse mesmo falecido (seu corpo nunca foi encontrado) e tivesse retornado para a casa do sogro, mas quando viu que ela tinha um novo filho, poderia ter se revoltado e matado todos. Entretanto seus companheiros de guerra afirmavam tê-lo visto morrer bem diante dos seus olhos.

Por fim, a última suspeita é a hipótese paranormal que estranhamente a polícia levou em consideração até certo ponto. Eles enviaram as cabeças das vítimas para médiuns para ver se descobriam alguma pista, mas a única coisa que conseguiram foi perder as cabeças na segunda guerra. Elas poderiam hoje ajudar a perícia de alguma forma.

Muitos acreditam que entidades malignas teriam feito a chacina graças ao péssimo clima que havia na família por causa do gênio difícil de Andreas.

Uma segunda teoria sugere que Emil na verdade foi morto pelo próprio pai, enterrado na floresta e que depois seu espírito retornou à fazenda e se vingou de todos. Isso teoricamente explicaria porque Andreas negava que o invasor de semanas antes poderia ter sido Emil, afinal ele estaria ocultando a morte do filho. Porém, agora teria pago o alto preço. No folclore alemão isso não é impossível e esses espíritos vingativos são conhecidos como “Ravenants”. Isso também explicaria as aparições fantasmagóricas que o empregado viu rondando pela fazenda.

Hinterkaifeck  hoje.
A polícia alemã reabriu o caso em 1986 e 2007, mas ainda não conseguiu solucioná-lo porque conforme os anos se passam, as evidências se tornam mais e mais escassas. A fazenda foi demolida em 1923 por vizinhos aterrorizados com um palco de tantas mortes horríveis próximo de suas casas.


Um marco para homenagear os mortos permanece no local. Todos foram enterrados em Waidhofen, mas sem as cabeças porque foram perdidas.

A história inspirou e inspira muitas novelas, livros, filmes e contos, principalmente os de terror. Investigadores amadores do mundo todo tentam ainda elucidar o caso de alguma forma e alguns chegam a visitar o local, mas nenhum deles obteve êxito ainda.

E a dúvida continua: quem matou os Gruber?

Tem algum palpite, leitor (a)? Deixa aí nos comentários!


Para ver outras coisas estranhas e incomuns, acesse a nossa coluna de bizarrices!

Liuka

É uma verdadeira draga de coisas inúteis e ao mesmo tempo interessantes.

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