MadBizarrice: Dakhma, a torre do silêncio


ATENÇÃO: o texto a seguir tem imagens e conteúdo que podem ser muito fortes a leitores sensíveis (literalmente foto de gente morta). Recomendamos muita cautela.

Antes de tudo quero dar uma noção básica do que seria o zoroastrismo.Também conhecida como masdaísmo, masdeísmo ou parsismo, é uma das mais antigas religiões do mundo. Originária da Pérsia, foi fundada pelo profeta Zaratustra (os gregos o chamavam de Zoroastro) em 600 a.C.. Foi talvez uma das primeiras religiões monoteístas no mundo. Acredita no bem (Aúra-Masda) e no mal (Arimã) e tem toda uma visão de paraíso, inferno, a ressuscitação e o retorno de um messias e um juízo final. A religião ainda existe, embora atualmente tenha perdido muito de sua força e são poucos os seus fiéis (estima-se que restam uns 200mil aproximadamente). Há comunidades por todo o mundo principalmente no Irã, Índia, Paquistão, Austrália, Estados Unidos e Reino Unido.


Agora vamos ao que interessa: o misterioso caso de Dakhma. Dakhma é uma torre do silêncio. Torres do silêncio nada mais são do que verdadeiros túmulos a céu aberto. Em 1832, o britânico Robert Murphy deu esse nome às Dakhmas, mas na verdade não é uma tradução do que a palavra "Dakhma" realmente quer dizer. Dakhma é um termo pra designar um lugar onde os mortos ficam. Se um zoroastriano morre, seu corpo é deixado na torre para que os vermes e urubus o comam. Parece ser horrível, mas pense bem: eles já estão mortos. Isso acontece porque os zoroastrianos acreditam que os corpos dos mortos, que aliás as almas demoram até 3 dias pra deixarem-nos, são impuros e portanto não são dignos de sequer tocarem na terra, quanto mais serem enterrados. A terra é uma criação divina e poluir algo tão puro seria um tremendo de um pecado.
 
O teto da torre é onde os corpos se localizam e há um buraco no meio com canaletas que desembocam em um rio ou oceano. O teto é dividido em 3 partes: na mais longe do centro ficam os homens, na do meio ficam as mulheres e na parte mais interna ficam as crianças. O que resta dos corpos, ou seja, os ossos são jogados num buraco que fica no centro da torre. Cal é adicionado para ajudar a deteriorar a carne mais rapidamente. Os líquidos são drenados por canais com filtros de carvão e areia engenhosamente construídos afim de evitar ao máximo que os rios sejam poluídos. Por fim alguns homens especialmente designados chamados "condutores de mortos" levam os ossos por um canal até um rio ou oceano e lá são despejados, pois só assim podem descansar em paz e não tocar a terra sagrada.

Planta feita no começo do século passado e publicada na National Geographic.

A entrada de não-zoroastrianos em torres ativas é terminantemente proibida, mas os turistas podem tirar fotos do lado de fora. Já nas torres desativadas é permitida a visitação livremente.


Logo depois da morte, um ritual se inicia. Durante 3 dias eles acendem uma pira ou velas próximas ao cadáver que está num quarto e um sacerdote com a boca tapada por um tecido para não poluir o fogo faz suas orações pela alma do falecido (isso acontece 5 vezes por dia). O consumo de carne pelos vivos é terminantemente proibido durante esse tempo. Nenhum dos participantes do ritual pode tocar o defunto, exceto os "condutores de mortos" que levam consigo um pau para afugentar as aves famintas quando chegam com os corpos nas torres, e todos se vestem de branco. Após isso, o cadáver é levado para a torre do silêncio sem roupas.
Foto de 1990 em Mumbai.
Agora é função dos vermes e aves devorarem a carne do sujeito e os ossos são deixados por algum tempo no sol para secarem (pode demorar até 1 ano). Daí é só jogar os ossos nas valas e deixar que a água os leve para longe. Essa, claro, é a versão indiana. Na versão persa os familiares ficavam em alojamentos próximos da torre e quando os ossos estavam prontos, eles os pegavam, levavam para as montanhas e os deixavam lá. Os persas também tinham o costume de construir as tais torres em montanhas com jardins e muita natureza ao redor. Claro que depois de mais de 3mil anos o cenário mudou pra um deserto, mas as torres continuam de pé.

Alojamentos para os persas.

Como elas supostamente deveriam parecer na época em que foram construídas.

Há alguns motivos pela qual tais torres estão caindo em desuso:
-questões sanitárias - países do ocidente, principalmente, proíbem o uso das torres por questões sanitárias, ou seja, certamente ninguém quer um lugar com corpos mortos a céu aberto perto de casa, certo? Nesse caso a cremação acaba sendo a melhor escolha e depois as cinzas são jogadas no mar.
-diminuição da população de aves necrófagas - descobriu-se que o diclofenaco, uma substância utilizada como analgésico para mamíferos, contamina a carne e quando os urubus a comem acabam tendo insuficiência renal. A coisa é tão feia na Índia que o diclofenaco acabou sendo proibido no país em 2005 afim de tentar recuperar um pouco da população de urubus.
-falta de mão-de-obra especializada - os nasellares (“zelador da imundice”) são os responsáveis pela manutenção do local, mas ultimamente poucos se arriscam a sê-lo.

Atualmente apenas uma torre ainda é utilizada e fica em Mumbai, na Índia.

Torre de Mumbai em 1880. Note que os urubus já estão de prontidão para o banquete.

Havia uma também em Yazd, no Irã, mas foi fechada por falta de mão-de-obra para manutenção. 

Torre do silêncio de Yazd.

O caso é que uma lenda bizarra e macabra tem tomado proporções cada vez maiores a algum tempo. O caso supostamente aconteceu em 19 de janeiro de 2003.

A história é a seguinte:

Enquanto buscavam evidências que pudessem ajudar a solucionar diversos casos de desaparecimentos de pessoas em uma floresta da Índia, os policias se depararam com algo macabro: uma torre do silêncio. Mesmo com vários corpos espalhados pelo local, nenhum foi identificado como sendo de alguma vítima do desaparecimento misterioso. Nem mesmo os moradores dos arredores sabiam quem eram aquelas pessoas. Outro fato estranho que os policiais logo notaram é que nenhum animal, exceto vermes, moscas e aves necrófagas estavam no local se alimentando da carne. Nem mesmo haviam sinais da presença de algum outro animal. No centro havia um buraco e este estava cheio de sangue podre numa quantidade assustadoramente grande, onde logo concluíram que seriam necessários muitos outros corpos pra conseguir encher o buraco daquela forma. O cheiro do local era insuportável, principalmente perto do buraco cheio de sangue, que fazia os policias vomitarem ou desmaiarem quando chegavam perto. Infelizmente não houve uma contagem oficial de mortos e a investigação foi muito pobre. Aparentemente os oficiais designaram o local como "muito difícil".
Em certo momento, um oficial sem querer chutou um osso que caiu no poço e rompeu uma bolha coagulada. Um gás saiu dali de dentro numa enorme pressão, espirrando em vários membros da investigação. Os contaminados foram encaminhados para o hospital e ficaram de quarentena, mas mesmo sob cuidados intensivos eles foram acometidos por febres e delírios. Muitos repetiam que estavam contaminados com o sangue de Arimã, ou seja, o mal. O bizarro é que até mesmo os ateus, céticos e os que nem sequer faziam ideia do que era zoroastrismo repetiam a mesma frase várias e várias vezes sem parar. Os delírios se transformaram em insanidade e eles começaram a atacar os funcionários dos hospitais com muita violência. Por fim morreram todos com intensas febres. Uma nova equipe chegou a voltar na torre no dia seguinte ao acidente, mas os corpos haviam sumido e o buraco estava drenado. Ninguém sabe se alguém entrou lá na torre ou se alguma outra coisa aconteceu, o fato é que o caso permanece um mistério até hoje.


Com tão poucas evidências, o caso se tornou uma lenda e até mesmo uma creepypasta (em suma é uma lenda macabra da internet). De qualquer forma as torres existem e fazem parte da história. Agora se realmente os investigadores sofreram uma morte terrível ninguém sabe. Para nós ocidentais é uma prática horrível, mas para os orientais é algo divino e necessário, por isso todo respeito a essa prática fúnebre é pouco.


Você pode visitar as torres do silêncio no Irã ou algumas da Índia. E aí, tem coragem?



Para ver outras coisas estranhas e incomuns, acesse a nossa coluna de bizarrices!

Liuka

É uma verdadeira draga de coisas inúteis e ao mesmo tempo interessantes.

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